Apito Final

Enquanto a bola rola nos relvados, aqui fazem-se golos, assinstências e desarmes precisos. A nata do futebol decifrada em palavras e imagens.

Friday, May 27, 2005

Mérito ou demérito?



Onze anos e dez temporadas depois. O clube português com maior palmarés a nivel interno e maior número de adeptos espalhados por todo o mundo regressou aos títulos. Giovanni Trapattoni foi o homem escolhido no inicio da época para levar os encarnados ao sucesso. Depois de falhada a qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões, o Benfica conseguiu embalar para um inicio de campeonato prometedor. A perda de alguns jogadores importantes na estratégia da equipa, a meio da primeira volta, casos de Miguel, Luisão, Petit e Ricardo Rocha pode explicar a quebra de rendimento das águias neste período. Mas coloca também a descoberto algumas fragilidades do plantel da Luz. Se o Benfica quiser defender o título e ter uma participação digna na Champions da próxima temporada terá de ter elementos no banco à altura do onze que acaba de se sagrar campeão nacional. Vamos ver o que permite a tesouraria de Vieira e seus pares...
A verdade é que assim que o técnico italiano conseguiu estabilizar um onze, as prestações da equipa voltaram a subir e o Benfica acabou por passar pelo menos metade do campeonato em primeiro e atingiu a final da Taça. Na europa uma má prestação e uma eliminação prematura aos pés dos russos do CSKA, poderão ter aberto as portas a uma campanha interna bem mais desafogada.
Haverá quem, com certeza, não aprecie o estilo da velha raposa, mas é inegável que muito do êxito deste voo triunfal dá àguia se deve ao seu pragmatismo. à sua capacidade de reconhecer as limitações do seu grupo de trabalho e tentar fazer delas as suas armas mais poderosas. É verdade que este Benfica com os pontos que conquistou seria apenas terceiro na última temporada. Mas também é verdade que foram os encarnados quem melhor souberam aproveitar os deslizes dos seus mais directos adversários. Haverá também quem diga que houve mais demérito de quem perdeu, que mérito de quem ganhou. Mas não será um mérito saber aproveitar o demérito dos outros? E afinal o Benfica não só é campeão, como ainda está na final da Taça de Portugal. E tudo isto com apenas onze jogadores de nível aceitável e teoricamente com o plantel mais fraco dos três grandes. Mérito ou demérito?

Wednesday, May 25, 2005

Que futuro para o Sporting?

Sem esquecer que ainda falta disputar a final da Taça de Portugal, para a quase totalidade dos clubes nacionais a época já chegou ao fim. Para o Sporting este final de época assumiu contornos de grande dramatismo. Como demonstravam na passada semana as estatísticas do jornal Record, em pouco mais de 28 minutos a excelente temporada que os leões vinham realizando desmoronou-se como se de castelo de cartas se tratasse. Tudo começou no Estádio da Luz, precisamente em jogo para a Taça. O prolongamento ia já adiantado, os verde e brancos econtravam-se em vantagem após golo monumental de Paíto. A 3 minutos do fim o Sporting consente o empate depois de pontapé inspirado de Simão Sabrosa. Nos penáltis a equipa de Trapattoni acabaria por seguir em frente. Nada de muito grave, na altura ainda havia o campeonato e a Taça Uefa para ganhar. O problema é que nas restantes provas o cenário repetiu-se. A 7 minutos do final do derby com o eterno rival, Ricardo claudicou e embalou as àguias para o título. E na final da Taça Uefa, em cerca de um quarto de hora o leão encaixou três socos no estômago que o levaram ao tapete.
Suficiente? Uma desgraça nunca vem só, e neste caso nem duas, nem mesmo três! Na última jornada da Superliga em pleno Alvalade XXI o Nacional humilhou a equipa leonina afastando-a do apuramento directo para a Liga dos Milhões. Suficiente? Ainda não. Polga, um dos jogadores mais utilizados por Peseiro, recusou-se a alinhar na partida com os insulares, passando por cima da autoridade do seu treinador. Douala, substituido antes da meia hora de jogo, deixou o jovem técnico de mão estendida quando este o tentou cumprimentar . Liedson fez o que quis durante toda a época e só a impressionante quantidade de golos apontados foram disfarçando a situação. Polga parece estar de saída. Liedson já hoje não se treinou, o regresso ao Brasil parece iminente. A situação de Rochemback também está longe de estar definida.
Por outro lado o presidente Dias da Cunha já disse que o treinador iria manter-se para a próxima época. Positivo? Pelo menos terá oportunidade de dar seguimento ao bom trabalho já realizado este ano.
Peseiro não deve ser julgado pela bola que bateu no poste e não entrou. Mas sim por ter transformado uma equipa que muitos condenaram à partida para o campeonato, na formação que melhor futebol praticou entre nós.
Vários jogadores importantes parecem estar de saída, aos sportinguistas fica a esperança bem verde, de terem uma equipa jovem e que ainda assim ficará recheada de talentos. Não esquecer que em Alcochete funciona uma verdadeira fábrica de jovens craques! Mandar Peseiro embora e começar tudo de zero, seria o maior tiro no pé que o Leão poderia dar. A ver vamos...

Monday, May 16, 2005

Venceu quem procurou ganhar

Não foi um bom jogo aquele a que se pôde assistir no passado Sábado, em pleno Estádio da Luz. Benfica e Sporting, conscientes daquilo que tinham a fazer, e algo retraídos pela cabal importância da partida, apresentaram um futebol táctico, pouco vistoso e, demasiadas vezes, mal jogado.

Benfica
A formação encarnada apresentou o seu onze base, com Miguel a jogar ligeiramente debilitado, bem como Simão Sabrosa. Geovani Trapatoni sabia que ao Benfica apenas a vitória interessava. E jogou para ganhar. Não praticando um futebol de grande nível, o Benfica acabou por dominar a primeira parte sem, no entanto, ter criado grandes situações de golo. Manuel Fernandes foi o mais inconformado e incisivo jogador encarnado, tentando por diversas vezes a sua sorte em remates de fora da área e auxiliando a equipa nas tarefas defensivas. Em mau plano esteve Miguel. Em condições físicas inaceitáveis, e com os níveis de concentração afectados, o lateral-direito foi uma sombra de si mesmo, disputando cada lance defensivo com receio e medindo mal, muito mal, a maioria dos cruzamentos tirados sem oposição.
Mesmo assim, foi o Benfica quem, inquestionavelmente mais atacou, rematou e lutou. Os encarnados quiseram ganhar o jogo.

Sporting
Para este ascendente da formação da casa, muito contribuiu a atitude esxpectante do Sporting. José Peseiro, como já é habitual, surpreendeu ao escalar um onze nada habitual. Com Leidson castigado, o treinador leonino apostou numa frente de ataque (pouco) móvel, com Douala e Sá Pinto. No meio campo, Moutinho e Custódio tiveram a companhia de dois jogadores claramente em sub-rendimento: Rochemback e Pedro Barbosa. No sector defensivo, sem Enakarhire, lesionado, Beto e Polga realizaram uma boa exibição no eixo, sendo que Rui Jorge e Miguel Garcia ficaram vários furos abaixo daquilo que hoje se exige de um lateral moderno. No banco... Tello, Hugo Viano, Pinilla e Rogério. Tivesse Peseiro apostado de início nestes quatro jogadores - em detrimento de Barbosa, Rochemback, Sá Pinto e Garcia -, e talvez o resultado tivesse sido outro.
Podem questionar-se as opções do treinador verde-e-branco, pode dizer-se que o Sporting jogou muito aquém daquilo que sabe e pode fazer. Mas Peseiro é quem decide. Arriscou e deu-se mal. Sem hipóteses nas competições internas, resta à formação de Alvalade conquistar a taça UEFA e escrever mais uma bonita página na história do futebol português.

Há GOLOS e... golos
Por mais que se dêem voltas, este derby ficará para sempre na história como aquele em que um golo polémico sentenciou o vencedor. Luisão fez falta? Ricardo terá falhado redondamente? Não será o lance entre Quim e Sá Pinto tão questionável como este? São muitas as perguntas que ficam no ar. Mas nenhuma delas mudará o resultado da partida. O Benfica venceu (merecidamente) por 1-0 e, depois de o ter eliminado da taça de Portugal, retirou ao seu eterno rival a possibilidade de se sagrar campeão da Super Liga.

Perto do céu
Mais de uma década depois, o Benfica está a um ponto do título de campeão nacional. Com um plantel desequilibrado, limitado até, a velha raposa fez aquilo que muitos não julgavam possível: colocou os encarnados na rota do título. A última (e complicada) paragem é o Bessa.
A nação benfiquista tem uma oportunidade única para reaver o título e entrar pela porta grande na próxima edição da Liga dos Campeões. Veremos se há estofo de campeão para os lados da Luz.

Um ponto é um ponto...

Tivesse o Sporting a um ponto do Benfica antes do derby da Luz, ao invés de se encontrar em igualdade pontual, e talvez o desfecho do jogo tivesse sido outro. Talvez... O onze inicial que o treinador dos leões escalou para este jogo decisivo espelhou alguma falta de ambição. Ao apresentar apenas três homens de caracteristicas iminentemente ofensivas (Barbosa, Douala e Sá Pinto) e nenhum ponta de lança de raiz, Peseiro deu sinais de que estava em casa da àguia apenas para empatar a partida. A impressão que ficou quando Tello, Viana e Pinilla foram lançados, foi de que o Sporting tinha futebol para ganhar o jogo. Assim Peseiro tivesse sido mais ousado e ambicioso. Talvez se tivesse a necessidade de ganhar o jogo... talvez!
Terá sido essa a principal diferença entre as duas equipas. A necessidade de ganhar o jogo. Ao Benfica não restava outro caminho. Trapattoni jogou todas as suas principais cartas, apostando até num debilitado Miguel, que mais tarde, já em desespero de causa, daria o seu lugar a Mantorras e deixaria os encarnados com Geovanni a fazer de defesa direito. Algo nunca visto para os lados da Catedral. Era preciso arriscar e a velha raposa apesar de ter demorado, arriscou. Não foi por aí que o Benfica ganhou o jogo. Foram mais felizes as àguias. Maracarm a cinco minutos do final, num golo contra a corrente do jogo e num lance fortuito. O Benfica foi mais feliz, mas foi também quem mais quis.
E como um ponto é um ponto, é a um ponto que os encarnados se encontram do título. Ainda nada está ganho, mas está quase. Falta um ponto e todo o trabalho necessário para o conquistar. Será o Benfica capaz de o fazer? Conseguirá aguentar a pressão? A ver vamos.. Só falta mais um capítulo.